O câncer de mama é provavelmente causado por uma combinação de fatores hormonais, fatores genéticos e outros fatores fisiológicos não hormonais (por exemplo, idade) e fatores ambientais e de estilo de vida. Contudo, apenas 5 a 10% dos casos de câncer mama estão associados a fatores genéticos, embora os fatores genéticos aumentem significativamente o risco câncer de mama, estudos identificaram que fatores fisiológicos, ambientais e de estilo de vida estão relacionados com a incidência de câncer de mama, alguns dos quais são modificáveis por meio de intervenções preventivas.
Nos últimos anos, a pesquisa pré-clínica forneceu evidências crescentes sobre a ação benéfica de substâncias bioativas derivadas de plantas – fitoquímicos, em múltiplas vias biológicas relacionadas ao câncer. A importante fonte natural de vários fitoquímicos com propriedades anticancerígenas são os alimentos funcionais de base vegetal. É hipotetizado que uma atividade antitumoral significativa de alimentos funcionais à base de plantas é o resultado de uma combinação de vários fitoquímicos, em vez de um agente isolado. A mistura de fitoquímicos com diversas atividades biológicas presentes em alimentos integrais pode ter efeitos aditivos ou sinérgicos contra o câncer de mama. Clinicamente, é muito importante comparar o efeito dos fitoquímicos isolados com a mistura de fitoquímicos presentes em alimentos funcionais vegetais específicos.Por exemplo, um estudo pré-clínico,in vitro, demonstrou que a combinação de seis fitoquímicos: curcumina, genisteína, indol-3-carbinol, c-ficocianina, resveratrol e quercetina regula negativamente a expressão de vários marcadores oncostáticos em linhagem de células de câncer de mama. Embora, existam poucos estudos comparativos entre alimentos naturais integrais e compostos vegetais isolados, e ainda sejam necessários estudos pré-clínicos e clínicos para confirmar esta questão, as dietas a base de plantas têm sido indicadas como uma das medidas preventivas do câncer de mama.
Polifenóis da Dieta Mediterrânea têm Propriedades Anticancerígenas
O câncer de mama HER2-positivo é um dos subtipos mais agressivos, respondendo por quase 30% dos casos diagnosticados e está associado a um prognóstico geralmente ruim. Infelizmente, vários pacientes desenvolvem resistência às terapias convencionais; portanto, muitos ensaios clínicos em andamento estão testando novos tratamentos possíveis. Os polifenóis são os principais componentes bioativos da dieta mediterrânea, com múltiplas propriedades benéficas, desempenhando um papel fundamental na prevenção do câncer por meio da regulação epigenética. Várias alterações nos níveis de microRNAs que regulam a expressão de oncogenes ou genes supressores de tumor podem levar ao desenvolvimento de tumor. Evidências demonstraram que os polifenóis dietéticos modulam microRNAs associados ao câncer de mama HER2-positivo, resultando em uma redução do crescimento tumoral e potencial metastático, e a restauração da quimio-sensibilidade sem exibir efeitos adversos ou tóxicos. Essas propriedades benéficas tornam os polifenóis uma abordagem terapêutica potencial para pacientes com câncer de mama HER2-positivo, isoladamente ou em combinação com terapias convencionais (Zabaleta et al., 2020).
Assim, uma dieta a base de frutas, vegetais, legumes, peixes oleosos e óleos vegetais podem reduzir significativamente o risco de carcinogênese mamária. A intervenção de fitoquímicos como estratégias de quimioprevenção contra as causas de iniciação de tumores também estão sendo muito estudadas. Entre os alimentos integrais vegetais candidatos mais relevantes que apresentam atividades anticâncer significativas na glândula mamária nos estudos in vivoestão listados abaixo.
Principais Alimentos Vegetais com Propriedades Anticâncer
Açafrão da terra (Curcuma longa) – rico em curcumina que possui efeitos inibitórios potentes sobre o câncer de mama.
Chá verde(Camellia sinensis) -os polifenóis do chá verde,principalmente a epigalocatequina-galato (EGCG) e quercetina que são antioxidantes naturais com efeito anticâncer significativo em modelos animais de carcinoma mamário.
Clorela –Chlorella pyrenoidosa -é uma fonte rica em vários fitoquímicos, especialmente carotenóides e polifenóis.
Cascas de frutas escuras comomirtilos, amoras, jaboticaba, romã, cranberry e uvas, ricas em polifenóis como as antocianididinas e resveratrol.
Condimentos como orégano, cravo, pimenta preta, tomilho, alecrim,cominho,todos ricos em compostos fenólicos e terpenóides.
Grãos de soja(Glycinemax):ricos em isoflavonascomo agenisteína,substâncias também denominadas de fitoestrogênios.
Vegetais cruscíferos – ricos em compostos fenólicos e organossulfurados como o Indol-3-carbinol,fitoquímico quetem sido indicado como um agente promissor na prevenção do desenvolvimento e progressão do câncer de mama.
Spirulina (Spirulina sp) –uma microalga que produz um pigmento azul antioxidante denominadoc-ficocianina com potencial ação antitumoral para o tratamento de cânceres de mama triplo-negativos.
Fitoquímicos mais estudados na prevenção do Câncer de Mama
Fitoestrogênios
Os fitoestrogênios são substâncias químicas de estrutura semelhante ao 17-beta estradiol e que é produzida naturalmente nas plantas, predominantemente na soja, mas também em legumes e em uma variedade de frutas, vegetais e cereais. O papel dos fitoestrogênios e o consumo de alimentos ricos em fitoestrogênios, para a prevenção do câncer de mama estão sendo muito estudados e apontam que uma dieta contendo isoflavonas da soja em mulheres adultas não é apenas ligeiramente protetora em relação ao câncer de mama, mas que pode ser benéfica se consumida no início da vida antes da puberdade ou durante a adolescência, corroborando os resultados de estudos epidemiológicos. Contudo, ainda não há evidências definitivas para apoiar um efeito protetor de fitoestrogênios na dieta quanto ao risco de câncer de mama. Na Escandinávia, os principais determinantes para redução do risco de câncer de mamaforam alimentos com cereais integrais, vegetais e frutas vermelhas, mas não foi possível relacionar se este efeito protetor foi causado pelos fitoestrogênios da dieta ou se eles são apenas biomarcadores de uma dieta saudável. De qualquer forma nenhum efeito negativo da soja no câncer de mama foi observado(Basu& Maier, 2018).
Quercetina
O alto custo e a baixa eficácia da maioria dos tratamentos convencionais para o câncer levaram a comunidade médica a buscar prevenção e tratamento com boa relação custo-benefício.As atenções dos pesquisadores têm se concentrado principalmente em alimentos com propriedades anticâncer. Oflavonóide, denominadoQuercetina é uma substância dietética que oferece um potencial preventivo no câncer de mama. Os pesquisadores estão convencidos de que a Quercetina é um composto natural na terapia e prevenção do câncer. A Quercetina possui atividadeantiinflamatória, antioxidante e efeitos na proliferação, angiogênese ou apoptose, que são consideradas propriedades antitumorais e podem potencializar o tratamento do câncer de mama (EZZATI et al., 2020)
Curcumina
A curcumina é um pigmento amarelo derivado do Açafrão da terra (Curcuma longa). Nos últimos anos, vários estudos demonstraram que a curcumina exerce vários efeitos anticâncer em vários tipos de câncer,em particular, exibe efeitos inibitórios potentes sobre o câncer de mama. Esta substância naturalexerce efeitos anticâncer inibindo a proliferação e metástase de células cancerosas e induzindo a parada do ciclo celular e a apoptose.A curcumina também exibe efeitos protetores contra a formação de câncer e pode induzir a apoptose em linhagens celulares, independentemente da expressão do receptor de hormônio. Além disso, a curcumina inibe a proliferação de células-tronco do câncer de mama (BCSC), um fator importante que influencia a recorrência do câncer. A inibição da proliferação de BCSC suprime a metástase e a reconexão, limitando a formação do tumor. Um estudo de xenoenxerto mostrou de forma semelhante que a curcumina exerce efeitos de supressão tumoral em células cancerosas e células-tronco cancerosas. Portanto, a curcumina é uma substância potencial anticâncer, e sua aplicação concomitante com outras drogas anticâncer é promissora.No entanto, a curcumina tem baixa biodisponibilidade, pois é insolúvel e é rapidamente metabolizada e isso limita sua utilização clínica (Liu, et al. 2018).
O primeiro estudo clínico a explorar a eficácia e segurança da administração de curcumina por via intravenosa em combinação com quimioterapia no tratamento de pacientes com câncer foi publicado em 2020. Um ensaio clínico comparativo, randomizado, duplo-cego e controlado por placebo, avaliou a eficácia e segurança da infusão intravenosa de curcumina em combinação com paclitaxel em pacientes com câncer avançado e metastático de mama. O tratamento com curcumina em combinação com paclitaxel foi superior à combinação paclitaxel-placebo. A curcumina administrada por via intravenosa não causou grandes problemas de segurança e nenhuma redução na qualidade de vida, e pode ser benéfica na redução da fadiga(Saghatelyanet al. 2020).
Resveratrol
Resveratrol é um polifenol natural encontrado em sementes de uva, inibe a proliferação de células cancerosas metastáticas devido ação antioxidante. Uma vasta pesquisa foi conduzida analisando o potencial anticâncer do resveratrol no tratamento do câncer de mama. Mesmo com uma limitação em termos de menor biodisponibilidade, estudos estão explorando diferentes caminhos para contornar isso. As atividades anti-proliferativa e apoptose associadas ao tratamento com resveratrol, bem como as vias de sinalização celular e metabólitos que são especificamenteafetados por este fitoquímico já estão bem definidas. Além destas atividades anticancerígenas, uma série de estudos científicos relatam uma infinidade de aplicações de resveratrol relacionadas à atividade anti-envelhecimento, efeitos cardioprotetores, propriedades antidiabéticas, bem como anti-inflamatórias, efeitos antivirais, e neuro-protetoras (Venugopal& Liu , 2012).
Ácido Ursólico
O ácido ursólico foi encontrado pela primeira vez em cranberries, mas foi recentemente identificado em cascas de maçã e em blueberries. Poucas informações sobre este fitoquímico são atualmente conhecidas devido à falta de dados de pesquisa científica sobre a sua biodisponibilidade oral. No entanto, ao longo dos anos, numerosas pesquisas in vitro e in vivo foram realizadas com relação ao potenciais benefícios do ácido ursólico para a saúde, entre as descobertas relatadas estão as atividades anticâncer e antiinflamatórias. Numerosos pesquisadores documentaram a atividade antiproliferativa e apoptose atribuída ao tratamento de células cancerosas de mama com ácido ursólico (Venugopal&Liu , 2012).
Conclusão
O desenvolvimento do câncer é um processo complicado e há vários fatores envolvidos. A intervenção com fitoquímicos, quando usados isoladamente ou de forma sinérgica, pode exercer efeitos positivos na quimioprevenção do câncer. No entanto, o efeito dos fitoquímicos na progressão do câncer deve ser claramente definido em estudos futuros.
Referências bibliográficas
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Zabaleta, M.E. et al. Effect of polyphenols on HER2-positive breast cancer and related miRNAs: Epigenomic regulation. Food Research Internationalv. 137, 2020.https://doi.org/10.1016/j.foodres.2020.109623
Liu, H-T. et al. Anticancer effect of curcumin on breast cancer and stem cells.Food Science and Human Wellness , v. 7, 2018. https://doi.org/10.1016/j.fshw.2018.06.001
Saghatelyan, T. et al. Efficacy and safety of curcumin in combination with paclitaxel in patients with advanced, metastatic breast cancer: A comparative, randomized, double-blind, placebo-controlled clinical trial.Phytomedicine, v. 70, 2020.https://doi.org/10.1016/j.phymed.2020.153218.
Basu, P. & Maier, C. Phytoestrogens and breast cancer: In vitro anticancer activities of isoflavones, lignans, coumestans, stilbenes and their analogs and derivatives. Biomedicine & Pharmacotherapy, v. 107, p. 1648-1666, 2018.https://doi.org/10.1016/j.biopha.2018.08.100
Venugopal R.& Liu R. H. Phytochemicals in diets for breast cancer prevention: The importance of resveratrol and ursolic acid.Food Science and Human Wellness. v. 1, n 1, p. 1-13, 2012. https://doi.org/10.1016/j.fshw.2012.12.001