O Sistema Imunológico
O sistema imunológico compreende duas linhas de defesa, incluindo imunidade adaptativa e imunidade inata. A imunidade inata é o mecanismo imunológico rápido não específico para proteger o hospedeiro de uma invasão do patógeno, enquanto a imunidade adaptativa é o mecanismo específico contra um patógeno envolvendo ação de anticorpos.
A imunidade inata compreende 1) o mecanismos de defesa primária do nosso organismo contra patógenos externos (bactérias, vírus, fungos), incluindo o integridade da pele e das barreiras mucosas, e 2) os componentes de defesa mais avançada contra o mesmos patógenos, uma vez que devem superar essas barreiras, com base na atividade dos monócitos circulantes e sua transformação em macrófagos, os elementos celulares que atacarão e tentarão bloquear a invasão. As principais células efetoras da imunidade inata são os macrófagos, neutrófilos, células dendríticas e células Natural Killer (NK) responsáveis pelo processo de fagocitose, com exceção das células NK. Na imunidade inata também há outros mecanismos envolvidos, como a liberação de mediadores inflamatórios, ativação de proteínas do sistema complemento, bem como síntese de proteínas de fase aguda, citocinas e quimiocinas.
A imunidade adquirida é baseada na proliferação e diferenciação equilibrada de linfócitos em células B, que se destinam principalmente à produção de anticorpos circulantes e células T, que se diferenciam em diferentes subtipos que produzem diferentes citocinas, moléculas envolvidas na resposta inflamatória a patógenos, alguns dos quais aumentam o poder da resposta inflamatória, enquanto outros tendem a modular e possivelmente atenuar isso.
Memória Imunológica e Fatores de Transferência
Ao entrar em contato com um agente invasor, nosso sistema imunológico deve identificar esse patógeno e combatê-lo. Por vezes, esse processo pode durar até 14 dias para que o organismo possa desenvolver corretamente a reposta a aquele invasor e removê-lo completamente. Depois que esse processo é finalizado e o patógeno foi eliminado, o sistema imunológico tem a capacidade de armazenar a identidade do agente invasor, criando uma célula de memória. Dessa forma, toda vez que o mesmo agente entrar em contato com o organismo, o nosso sistema é imediatamente avisado pelas células de memória e o patógeno é eliminado sem que o corpo manifeste a doença. Esta memória imunológica é conferida por imunoglobulinas fixadas na superfície das células, assim surgiu a expressão- imunidade mediada por células. Em 1954, o pesquisador Henry Sherwood Lawrence descobriu que a imunidade podia ser transferida de doadores imunes para receptores não imunes, mesmo quando as células imunológicas fossem rompidas – indicando que as células não precisavam estar intactas para produzir efeitos imunológicos. A partir de extrato obtido de linfócitoslisados, Lawrence descobriu que moléculas pequenas (menores que 8.000 Daltons), eram capazes de transferir imunidade e assim foram denominadas “fatores de transferência”.
Os Fatores de Transferência (TF) são essencialmente pequenas moléculas de oligo-ribonucleotídeos ligados a um peptídeo, que são mensageiras imunológicas produzidas por todos os organismos superiores. Os TF foram originalmente descritos como moléculas imunes derivadas de células do sangue ou do baço que causam imunidade mediada por células, específicas a um antígeno, mas também podem retardar a hipersensibilidade e a produção de linfocinas, bem como a ligação a antígenospróprios, conferindo, portanto, proteção aos processos auto-imunes. São moléculas imunomoduladoras, auxiliando na memória imunológica do receptor, não são alergênicas devido ao seu pequeno tamanho, e não são tóxicas.
Foi comprovado que o primeiro leite materno de todos os mamíferos, chamado de colostro, é uma forma de transmitir imunidade passiva aos bebês recém-nascidos, contém fator de transferência. Porções não específicas do antígeno presentes no colostro podem contribuir para o desfecho benéfico em pacientes, estimulando o sistema imunológiconão -específico e são universalmente eficazes.Os fatores de transferência não são espécie específicos, ou seja, os mesmos fatores de transferência são produzidos por diferentes classes de mamíferos, e desempenham as mesmas funções em qualquer espécie. Portanto, um fator de transferência extraído de fontes animais (bovina ou suína) promovem o mesmo efeito benéfico em outras espécies de animais, sem desencadear respostas alérgicas.O sistema imunológico trabalha da mesma forma para todos os animais, e estes por sua vez, durante sua vida, entram em contato com os mesmos patógenos que estão presentes no ambiente. Dessa forma, eles são capazes de se adaptar às necessidades de cada organismo, fortalecendo e acelerando a resposta imunológica.
Porque a imunidade mediada por células desempenha um papel crucial no controle de infecções, bem como câncer, o TF tem sido usado ao longo dos últimos 35 anos, às vezes com um grande sucesso, para o tratamento de infecções virais, parasitárias, fúngicas e bacterianas, bem como para a prevenção de certas infecções virais. No entanto, apesar dos resultados clínicos extremamente promissores, as pesquisas clínicas neste campo foram interrompidas por considerações teóricas e também por questões metodológicas (Viza et al., 2020).